jogos cacaniqueisjogos cacaniqueis

MP pede absolvição de servidor do IBGE que fugiu de

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pediu a absolvição de um servidor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que foi acusado de tentativa de homicídio ao tentar fugir após ser agredido por bolsonaristas em um bloqueio em estrada do interior paulista em novembro de 2022. 

O caso aconteceu em na rodovia SP-360,çã na altura do município de Amparo. Marcolino viajava em um veículo oficial com identificação do IBGE, acompanhado de uma colega. Eles atuavam no Censo 2022 e iam prestar serviço em Serra Negra, outro município da mesma região. O carro foi abordado pelos participantes dos protestos golpistas e alguns iniciaram os ataques. 

O episódio deu início a uma série de transtornos. Ao tentar fugir, Marcolino foi agredido, precisou de trafegar na contramão, teve o carro invadido por alguns dos golpistas e foi parar em uma delegacia, onde chegou a ficar detido. O delegado tentou indiciar o servidor por tentativa de homicídio (por supostamente ter tentado atropelar os bolsonaristas).

Com apoio de uma advogada, ele passou por audiência de custódia e foi liberado na época, mas o processo seguiu em curso. A manifestação do MP-SP pedindo sua absolvição, mais de seis meses depois, traz um pouco de alívio.

"Eu fico muito feliz que a justiça tenha sido feita. Pela primeira vez em meses eu consegui dormir sem me preocupar comigo, tive uma sensação de que tudo estava sendo esclarecido. Porque nessa condição de réu, a gente não sabe o que o outro vai interpretar", disse.

Na manifestação, o MP-SP solicita a retirada das medidas cautelares impostas a Marcolino, bem como a transferência da investigação para a Polícia Federal, já que a atuação da delegacia que atendeu o caso inicialmente não condiz com a real situação registrada, e crimes praticados contra funcionários públicos devem ser julgados pela Justiça Federal, conforme prevê a Constituição.

Para provar o que relatou, Marcolino trabalhou para conseguir as imagens de câmeras da rodovia. O Sindicato dos Trabalhadores do IBGE também se engajou na defesa do servidor. Ele ainda foi absolvido pela corregedoria do órgão, que fez apuração interna para investigar o episódio.

"Inclusive eles pontuaram que os manifestantes deveriam ter sido autuados por agressão e por depredação do patrimônio público. Se eles tivessem comprovado alguma coisa que eu havia feito fora do esperado, eles teriam tomado as diligências cabíveis, que seria me responsabilizar pelo carro [danificado]", disse.

Meses de tensão

Apesar de ter sido liberado após passar por audiência de custódia, Marcolino passou por muitas dificuldades e teve prejuízos. Só no primeiro momento, gastou cerca de R$ 7 mil com advogados. Nada que se comparasse às ameaças e agressões que sofreu.

"Foi dito que o IBGE não ia passar, que o IBGE trabalhava para o Lula. Nesse momento tentei conversar com manifestantes, falar sobre o trabalho, sobre não ser político partidário, que é um trabalho que ajuda a região. Algumas pessoas começaram a gritar que não éramos bem vindos. Começaram a bater, dar chutes e socos no carro", relatou o servidor ao Brasil de Fato na época.

Na sequência, bolsonaristas tentaram retirar a colega de dentro do carro. Alguns abriram uma das portas traseiras. Enquanto tentava proteger a outra servidora e os pertences que estavam no carro, Marcolino foi agredido com um soco no rosto. Ele então ligou o carro e tentou sair. Primeiro de marcha ré, mas desistiu por receio de atropelamentos. Então partiu para a frente, desviando das pessoas e dos materiais usados para o bloqueio.

"Quando saímos fomos perseguidos por quatro carros e duas motos, por três quilômetros, mais ou menos. Os motoristas jogavam os carros na nossa frente, com intuito de talvez provocar acidente. Fui obrigado a entrar na contramão pra fugir. Vi uma viatura da Guarda Civil Municipal de Amparo e me aproximei para pedir ajuda. Quando parei, os manifestantes vieram para cima do carro e quebraram o vidro da frente usando um capacete", relatou.

As agressões só cessaram quando um dos guardas atirou para o alto, como advertência. Antes disso, porém, Marcolino teve o nariz fraturado. Ele e a colega foram para um pronto socorro e, na sequência, para a delegacia. Sempre perseguidos pelos bolsonaristas.

"Não se pode deixar de salientar que mesmo diante da presença dos agentes da lei, os manifestantes – em grande número - agrediram fisicamente Tiago e danificaram o veículo público, conduzido por ele, sendo necessário o disparo de munição antimotim para que o conflito cessasse", pontuou a promotora Flavia Travaglini Zulian, que assina a manifestação do MP sobre o caso.


Servidor teve o nariz fraturado por bolsonaristas / Acervo pessoal

"Eu não fui atacado por ser um civil comum, e sim por que estava com veículo oficial, do IBGE, órgão do governo federal, um carro de uso exclusivo em serviço", disse o servidor.

Episódios de recusas à participação no Censo e até mesmo agressividade contra agentes do IBGE foram frequentes no país em 2022. Marcolino contou que colegas em diversas cidades sofreram ameaças. Esta foi a primeira vez que ele participa do processo de recenseamento, mas contou que colegas que já estavam na função em outras edições afirmaram que esse tipo de situação é novo.

Edição: Thalita Pires

good(9192)